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Escrevivendo longe dos neologismos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Como se escreve zero em números romanos?

Morar no Rio de Janeiro nunca foi uma opção. Na verdade, quase nada na minha vida foi escolha própria. Pais rígidos, dominadores, responsáveis e chatos pra cacete. Nunca duvidei sobre ser adotada. Mas não porque me pareço com eles, é que provavelmente eu fui chocada. Ou cagada, vai saber.
Cresci como uma criança feliz, normal... Mentira, não cresci. Continuo com os míseros 158 centímetros desde os quatorze anos. Puta que pariu, nem meus hormônios me suportam. O bom é que homem até gosta de mulher pequena. Deve parecer fofinho, quase uma criança. Ou então porque é mais fácil pra esconder da esposa, pagar um e etc. Homens.
Voltando a minha vida as voltas com Barbies – que sempre acabavam sem cabelos e carinhas nos peitos – de certa forma, eu era feliz. Exceto pela parte em que eu jogava damas, xadrez, sueca, totó e o diabo a quatro. Sozinha. Meu autismo não identificado constituiu grande parte da minha infância deprimente. Pré-adolescência foi marcada pelos estudos excessivos. E por eu ter engordado feito uma vaca. Eu, que sempre fui muito desastrada, passei a ter medo de tropeçar pra não sair rolando por aí. Gorda e humilhada seria demais pra mim.
- Mas filha, você não era gorda. Só era supernutrida.
- Tá. Tchau, mãe.
Quando completei dezoito, decidi aloprar. Quase duas décadas de escravidão mental me pareceram suficientes. Passei por diversos groupies até perceber que isso era mais babaca do que aceitar as regras dos meus pais.
Pelo menos eles têm a desculpa de que “você saiu do meu saco” ou algo do gênero, mas essas gangues grotescas de hoje em dia só servem pra sugar seu cérebro e te fazer comprar maconha.
Então resolvi viver a minha vida do jeito que dava. Saí de casa e passei a me virar com trabalhos provisórios. Lojas de discos, bibliotecas, danceterias e essas porras que você fica na porta conversando com os outros e dando sua opinião sobre tudo que existe ali. Se tem uma coisa que eu faço com prazer é lidar com as pessoas. E sexo, claro. Não vou falar da minha primeira vez porque, sinceramente, eu não gosto nem de lembrar. Só sei que aquele gosto de cola com farinha de pobre foi uma das piores coisas que já provei na vida.
Cíntia, 19, carioca, sádica, babaca nas horas úteis e zumbi nas vagas. Provavelmente temos alguma coisa em comum. E por enquanto é o que basta você saber.
I'm like a child except my imagination's lost.
The Escapologist – Sugarplum Fairy

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