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Escrevivendo longe dos neologismos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Vamos logo com isso. Cena I

A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. 
Para ser popular é indispensável ser medíocre.
Oscar Wilde

Despedida. Essa foi a ultima palavra que ouvi do meu chefe, dono daquela mini confecção de roupas chinfrim num shopping da zona sul, depois de tê-lo mandado tomar naquele rabo gordo dele.
Eu adoro pessoas, mas odeio chefes. Sei lá, eles sempre parecem tão autoritários e babacas naquelas gravatinhas mesmo sabendo que não fazem nada além de chamar a Arlete pra atender o telefone. Claro, porque toda secretária se chama Arlete. Parece até carma. Nunca coloque o nome da sua filha de Arlete. Você estará traçando um futuro pobre e propício a abusos sexuais (em troca de promoções) para a criança.
Depois que saí daquele buraco, parei na Starbucks, gastei parte do salário que tinha recebido há pouco (nem pra despedir o babaca serve, poderia ter feito isso antes de pagar. Mentira, não poderia não, tá ótimo assim) e voltei pra casa. Casa. Queria poder chamar aquilo de lar, mas na maioria das vezes chamo de troço mesmo. Ou gruta do inferno. Pretendo sair logo dali. As meninas que moram comigo são menos amáveis que babuínos raivosos e nenhuma delas serve ao menos pra comer. Sério, eu já tentei. Bom, a vodca que dominava meu sangue tentou. Não deu certo. Ainda bem.
Como se meu dia já não estivesse ruim o suficiente – ok, não estava, eu só havia me livrado de um ogro de 90kg de ignorância e quinhentos contos mensais que não pagavam todas as minhas anfetaminas e pacotes de Kit Kat –
essas mesmas meninas resolveram transformar nossa humilde residência em um antro. E fizeram questão de dizer que eu não estava convidada. Ok, Cíntia, você acaba de ser expulsa da sua casa.
Você que paga mais da metade das contas dessa merda não pode ficar nem pra tomar duas doses de tequila barata da venda do Seu Francis. Ok. Fica tranqüila. São só alguns homens provavelmente marombados. É só Jose Cuervo. Piranhas.
Respirei.
Enquanto eu caminhava pelas ruelas de Santa Teresa percebi que não fazia o menor sentido ficar puta por causa disso. Provavelmente elas só tinham chamado exemplares acéfalos da sociedade. Tipo de gente que destaca em perfis virtuais que “tem um lado espiritual independente de religiões”, mas que culpa Deus por todas as suas frustrações, incompetências e QI’s negativos.
Andei. E andei. E decidi pegar o bonde porque estava quase sem nenhum puto no bolso e sessenta centavos pra chegar na Lapa sempre me soou muito digno.
Bairro boêmio, muito a minha cara. Fiquei vagando como se conhecesse o lugar até encontrar um banco qualquer. Puxei o ultimo cigarro da cartela e decidi que dali em diante ia parar de fumar.
Muito nova pra morrer, menina Cíntia. Seus pulmões agradecem e a Marlboro te manda a merda.

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