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Escrevivendo longe dos neologismos.

terça-feira, abril 05, 2011

Queridos marimbondos, sejam mais úteis e comecem a chupar gordura.

Se as coisas seguissem uma única linha lógica, com certeza eu ficaria muito satisfeita com o Senhor Detetive. Diferentemente da casa de Mateus, a decoração era despreocupada e amistosa.
Não deselegante, mas pouco projetada. Imaginei que ele não tivesse tempo diante de tantos casos, mas soltei um risinho quando pensei em outras ocupações para o tira. Nunca fui um arquétipo de educação, mas estava realmente precisando de uma boa noite.
E de preferência sem pênis com identidade própria. Não que eu não goste quando eles são quase organismos à parte...

- Sala, cozinha, banheiro, quarto. Muitos lugares e muita roupa. Vamos mudar essa situação? – ele falou sem me olhar.
- O quê quer? Destruir alguns cômodos?
- Tão selvagem assim, madame?
Humor gostoso.
- E os seus casos?
- Você seria meu primeiro.
Todo gostoso.
Mas aí a merda do celular dele tocou e, ao que tudo indicava, um homicídio tinha acontecido por ali. Caralho, isso era mais excitante do que ele próprio.
Certo, exagerei. Mas eu sempre exagero. Uma vez apareceu uma lagartixa lá em casa – quando eu ainda morava com meus pais e tinha decência – e eu peguei a vassoura e uma panela de pressão pra me defender. Espanquei a criaturinha abominável e joguei lá dentro. Tudo bem que ela parecia mais um lagarto. Camaleão. Dinossauro. Sei lá. Mas eu não ia dar mole, vai que ela soltava aquele rabinho infeliz na minha cara e me cegava? Cadê a minha dignidade? Pra sofrer acidentes tem que ter o mínimo de heroísmo.
Se é pra torcer o pé, que seja salvando um gatinho na arvore, uma criança do incêndio ou correndo de gente feia.
- Quer vir?
- E a destruição do lar?
- O quê tem? A gente vai voltar. Provavelmente o filho da puta já se mandou. E você está comigo, o único perigo possível é eu não agüentar esperar pra te comer.
Nunca gostei de ser tratada como objeto sexual. Mas também nunca gostei de feijão aguado e aquelas garotas só sabem fazer sopa com os caroçinhos. Bando de anoréxicas sem peito, bunda e cérebro. Só queria não ter celulite como elas, mas isso Dr. Ray resolve.
Fiquei olhando pra ele com cara de why-aren’t-we-naked-yet?, acenei com a cabeça e voltamos pro carro. Se ele não me parecesse tão vulgarmente interessante, eu tinha me mandado. Ou melhor, se não houvesse uma possibilidade enorme de mais uísque eu já o teria feito há muito tempo.

Fomos parar no meio de um bosque, floresta, matagal ou sei lá que porra era. Só sei que tinha muito verde, ar puro e mosquito. Mosquitos. Muitos. Demais. Pra. Caralho.
- Sempre quis saber a sensação de ser comida viva... – falei, dando um golpe ninja em um marimbondo do tamanho da Europa.
- Espera a gente chegar em casa.
Sacana.
Os caras que trabalhavam com Bennett ficaram me olhando meio torto, até ele me puxar para um canto e dizer que não estavam muito acostumados em vê-lo com uma mulher.
Passaram pelo menos vinte minutos me analisando irritantemente, o que me lembrou aquelas batatas-sorriso que eu costumava comprar antes de ter que usar meu dinheiro pra pagar contas abusivas. Sabe aquelas batatinhas redondas e sorridentes? Então, eu tinha medo delas. Até o momento em que elas eram banhadas pelo meu suco gástrico, eu realmente ficava receosa com a presença daquelas coisinhas amarelas. Elas estavam ali, rindo de mim, me julgando furiosamente. Assustador. Gostosas, mas macabras.
Comecei a encarar os homens da lei com falso interesse, como se fossem macacos de circo. Gosto de estudar as pessoas. Normalmente elas são tão fáceis e previsíveis, mas nunca perde a graça. Eu me sinto o máximo quando acerto a fala seguinte da novela sem nunca tê-la visto antes. Vidência. Magia. Obviedades.

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