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Escrevivendo longe dos neologismos.

quinta-feira, março 10, 2011

Cena III: Sibutramina, bem vinda à casa.

Se existe uma invenção perfeita ela se chama despertador. Esse babaca nunca erra. Pelo menos não o meu. Presídios nem sempre são seguros, prédios desabam, camisinhas estouram, torradeiras deixam o pão queimar, aviões explodem, Jesus fode a sua vida. Sim, porque ele – figura ilustrada – é uma invenção da humanidade também. Mas o meu despertador não. Ele nunca falha. Tá sempre pronto pra irritar e me deixar com vontade de enfiar uma besta espanhola nos órgãos. 
Acordei a fim de bacon. Eu nunca gostei disso, mas acordei com vontade e resolvi fazer. Passei na venda do Seu Francis, comprei um pacotinho dessa bodega e voltei pra fritar. Não que eu planeje ter filhos, mas não quero nenhum deles com cara de bacon. Se bem que, com a sorte que tenho, a única alternativa que vem sobrando é trepar com porcos mesmo. Homens. Argh.
Comi uma meia dúzia e bateu remorso.
Porra Cíntia, já não basta estar ficando em forma – de bola – pela falta do cigarro e ainda cisma de enfiar goela abaixo esses blocos de gordura? Parabéns, Nobel da Imbecilidade Roliça pra você.
Eu assumo burrice, bissexualidade, vício em sexo, jogos de cartas e chocolate, fazer barulho com o nariz, gostar de quem não presta e reparar nas bundas das negonas do pagode, mas se tem uma coisa que eu não assumo é a minha gordisse.
Não acho feio, muito menos tenho preconceito. É sério, existem muitas gordinhas gostosas por aí. O problema é que eu simplesmente não consigo me encaixar nesse corpo desnivelado e metamorfósico que Deus, Alah, Buda e a gordura trans me deram. Junk food é a versão embalada e feita pra microondas do inferno.
Um sábado meio morno pede ou um banho frio ou uma noite quente. E como a segunda opção só aconteceria se eu me trancasse dentro do forno, fui pro chuveiro.
Puta que pariu, que idéia infeliz. Não seria exagero se eu alegasse hipotermia, mas teria sido frescura então joguei a toalha sobre os ombros e fui colocar uma roupa.
Fiquei pensando em alguma coisa pra preencher o dia, mas não fui muito longe me restando apenas criar discórdia entre os moradores do prédio. Rabisquei um discurso bronco do tipo “Da próxima vez passo por cima da sua mãe com o carro. Ela seria mais rápida se ficasse parada.”, mas lembrei que não sou exemplo de agilidade e deixei a discrepância pra lá.
Minha sobriedade já estava começando a irritar. Bar. É disso que eu preciso.

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