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Escrevivendo longe dos neologismos.

domingo, março 13, 2011

Tira de mim. Sai. Xô.

A umas duas quadras do apartamento tinha um boteco arrumadinho e de bons freqüentadores. Ok, nenhum boteco é bem freqüentado, mas isso não fazia dele um dos piores. Já estava cansada de encontrar ali caras realmente interessantes, de bom papo e costelas aparentes.
Homens magros são sinônimos de amor pra mim. Ainda mais se eles tiverem poucos pêlos e sorriso torto. É sério, eu me apaixono.
Sentei no balcão, como sempre. Teria pedido Duelo ou Canelinha, mas não estava disposta a chapar rápido ou ficar numa ressaca infernal no dia seguinte. Só que também não me fingiria de boa moça e ficaria contente com um melzinho colorido. Isso é bebida de micareteiro que não sabe nada da vida a não ser contar quantas beija e come e passa gonorréia.
Perguntei pro Lord – era assim que eu chamava o dono do lugar e mestre do etílico – se ele ainda tinha o Cutty Sark que ganhara de presente de um Cara. Eu tenho mania de chamar as pessoas de Cara, com cê maiúsculo mesmo. É menos deseducado, mas ainda notifica que a pessoa não tem grande importância pra mim. Oitenta por cento das pessoas do mundo são Caras. E, ironicamente, também são baratas demais.
- Puts Cíntia, não tenho mais não.
Bacana, bacana. Até o uísque resolveu se revoltar. Bacana, bacana, babaca.
- Aceita um Jack Daniels? – uma voz grave perguntou.
Virei e encontrei um cara alto e de barba malfeita. Mais um pra aporrinhar. Bleh.
- A bebida ou esse é seu nome? – botão de ironia ativado, senhores passageiros.
- Se quiser os dois, estou às ordens.
Não respondi nada, mas acenei com a cabeça.
Não estava em condições de negar um uísque tão bom e razoavelmente caro. Ele se sentou ao meu lado e ficou alisando a boca do copo com o indicador direito. Tinha um jeito abrutalhado, não era magro, mas alguma coisa nele me intrigava.
- E aí, quem é você?
É obvio que se ele fosse um assassino estuprador de jovens deprimidas não iria me dizer, mas não tinha muito a perder e precisava saber a índole do Cara do Meu Uísque.
- Detetive Bennett e a madame?
- Cíntia, mas pode me chamar de Até Logo.
Sinceramente, nunca me dei bem com tiras. Talvez tivesse sido melhor se ele fosse um homicida psicótico do que policial. Não sou um exemplo de conduta a ser seguida, se é que me entende.

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